Angola com saldo positivo pela primeira vez nas trocas comerciais com o Brasil
As trocas comerciais entre Brasil e Angola recuperaram em 2022 os níveis pré-pandemia, atingindo 1,5 mil milhões USD, com o país africano a superar pela primeira vez as exportações brasileiras.
Em declarações à Lusa, o embaixador do Brasil em Angola, Rafael Vidal, salientou que “houve uma retoma importante dos fluxos bilaterais” que voltaram ao patamar de 1,5 mil milhões USD, valor da média pré-pandemia, e que tinha caído para cerca de 600 milhões USD em 2021.
O diplomata realçou também que as exportações angolanas superaram as do Brasil, com o país latino-americano a exportar 700 milhões USD (sobretudo máquinas e equipamentos e produtos agroalimentares), enquanto Angola vendeu 800 milhões ao parceiro do outro lado do Atlântico.
“Pela primeira vez, tivemos um aumento importante da participação angolana nesse comércio, sobretudo na área de energia (produtos derivados do petróleo)”, uma “boa notícia no sentido de um reequilíbrio da balança comercial que era antes 95% favorável ao Brasil e que estará relacionada com as mudanças do comércio internacional pós-guerra da Ucrânia”, sugeriu.
O embaixador fez também um balanço dos resultados da última comissão mista realizada entre Angola e Brasil – a 7.ª, realizada em Brasília no início de Abril – destacando a assinatura de acordos na área de aviação que evitam a dupla tributação dos transportes aéreos e abrem caminho à operação de companhias aéreas como a LATAM e à abertura de novas rotas na América do Sul para a TAAG, a partir do Brasil.
“É bom para a relação bilateral, pois aumenta as pontes entre Brasil e Angola”, prosseguiu Rafael Vidal, acrescentando que um dos grandes entraves para que houvesse ampliação deste mercado era precisamente a dupla tributação que encarecia os custos.
“O mercado entre os dos países é muito forte e vem crescendo, a demanda é muito grande não só nas linhas diretas, mas também nas conexões, nos ‘hubs’ e para a carga também, no transporte aéreo é fundamental, sobretudo para cargas perecíveis”, disse à Lusa.
Angola e Brasil discutiram também a implementação do acordo de cooperação para a agricultura irrigada e agricultura familiar no Vale do Cunene, onde o Governo brasileiro quer replicar o modelo do Vale de São Francisco (região localizada entre os estados de Minas Gerais, Baía e Pernambuco, que se tornou um importante produtor de frutas e hortícolas).
“Foi discutida a abertura de linhas de crédito para ações de desenvolvimento do comité gestor bilateral no Vale do Cunene (sul de Angola), tanto a nível de iniciativas públicas, como do setor privado. O nosso desejo é que esse acordo possa contar com linhas de financiamento que agilizem a sua execução, em linha com a nova política externa do Governo brasileiro e as expetativas do Governo angolano e do Presidente João Lourenço no que diz respeito à ampliação da base produtiva do país”, adiantou.
Na área da saúde, foi assinado um acordo para alargar as áreas de cooperação em políticas públicas, nomeadamente na prevenção do VIH e bancos de leite materno.
Foram também lançadas as bases de um acordo na área dos transportes marítimos que o diplomata brasileiro acredita que poderá ser assinado durante a visita do Presidente Lula da Silva ao país africano, prevista para Agosto.