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“A comunidade angolana no Gana é uma família” – embaixador

O embaixador de Angola no Gana, João Quiosa, encorajou, esta semana, os empresários angolanos a aproveitarem melhor as oportunidades oferecidas por aquele país, fundamentalmente nos sectores da Agricultura, Indústria mineira, Pescas e Moda.

Por Venceslau Mateus, jornalista da ANGOP

Em entrevista à ANGOP, o diplomata referiu que o mercado do Gana pode ser uma via estratégica para a circulação de produtos nacionais em outros Estados africanos, sobretudo na Zona de Comércio Livre Continental Africano (ZCLCA).

Conforme a fonte, o intercâmbio poderá ser impulsionado, igualmente, pela abertura, este mês de Agosto, da ligação aérea entre as capitais dos dois países, através da Companhia ASKY, o que vai facilitar a troca de mercadorias e serviços.

Durante a entrevista, o embaixador afirmou, por outro lado, que a cooperação bilateral registou abrandamento nos últimos anos, por causa da pandemia da Covid-19.

Relativamente à comunidade angolana no Gana, João Quiosa informou que é consideravelmente pequena, ou seja, existem cerca de 150 cidadãos registados nos Serviços Consulares da Embaixada, maioritariamente estudantes.

Eis a íntegra da entrevista:

ANGOP – Senhor embaixador, que avaliação pode fazer do estado actual das relações bilaterais entre Angola e o Gana?
João Baptista Domingos Quiosa (JBDQ): As relações bilaterais entre a República de Angola e a República do Gana perduram há mais de 4 décadas. De um tempo a esta parte, tem-se desenvolvido trabalhos com o objectivo de definir linhas que reforcem a amizade e a solidariedade entre os dois Estados, manifestado através da assinatura de novos acordos em diversos domínios e protocolo de cooperação.

As recentes visitais oficiais dos dois Estadistas nos respectivos países, que culminaram com a assinatura de acordos nas áreas da Agricultura, Defesa, Pescas, Formação e Educação, Transporte e Indústria mineira, reitera, em grande medida, o interesse positivo no reforço e alargamento destas relações. Com a pandemia, houve um significativo retrocesso, o que obrigou a realinhar as perspectivas que nos orientam a uma Nova Era. Angola é membro da (ZCLCA) Zona de Comércio Livre Continental Africano e tem como objectivo fazer circular os seus produtos entre os países africanos.

O que Angola e os angolanos podem esperar, num futuro próximo, em termos de cooperação bilateral entre os dois países?
Estão em preparação novos acordos a serem assinados entre as partes que, consequentemente, irão se reflectir na vida dos angolanos e dos ganenses. Com a reabertura de uma ligação aérea, através da Companhia ASKY, que vai encurtar a distância entre os dois países em pouco mais de 5 horas, com escala em Lomé/Togo. Deste modo, os empresários voltam a procurar oportunidades, trazendo e levando negócios e investimentos em vários sectores

Quais são os sectores de maior interesse para os empresários ghanenses?
Muito por conta da coincidência das riquezas naturais entre os dois países do continente, como os mares, o clima, a cultura, a história, os solos aráveis e ricos em minerais, os sectores da Pesca, do Petróleo, da produção do cacau e do Turismo são os que despertam maior interesse dos empresários, apesar de haver indicadores de novos sectores de interesse, como, por exemplo, o da moda.

Em 2019, os dois países assinaram um memorando no domínio da Educação, para a mobilidade de professores e pesquisadores em instituições de ensino superior e centros de pesquisa científica. Já há resultados práticos deste acordo?
De facto, já começamos a dar sinais de trabalho neste sentido. Em Maio de 2022, a ministra da Educação de Angola, Luísa Grilo, deslocou-se à República do Ghana, onde, para além de participar em conferências, visitar centros de formação de professores de ensino superior e escolas, manteve encontro com o seu homólogo ghanense, Yaw Osei Adutwm, que ficou marcado pelo interesse recíproco da efectivação do intercâmbio de professores e alunos do ensino técnico-profissional. Por outro lado, encontram-se em negociação propostas manifestadas entre instituições de formação dos dois países, no domínio do intercâmbio linguístico e cultural.

Angola tem uma vasta comunidade espalhada pelo mundo. Qual é a estimativa de angolanos residentes no Ghana?
O fenómeno migratório é um facto mundial e as razões para o efeito são de vária ordem, seja de fórum pessoal, seja de força maior. A comunidade angolana no Gana é consideravelmente pequena, cerca de 150 cidadãos estão registados nos Serviços Consulares da nossa Embaixada. Ela é, maioritariamente, composta por jovens estudantes, que escolheram o Ghana pela sua língua e cultura. Existe também angolanas que firmaram compromissos conjugais com cidadãos ghanenses, formando famílias e por fim os que se encontram alocados, por razões de trabalho contratual, em empresas estrangeiras.

Quais são as principais inquietações apresentadas pelos angolanos e que tipo de apoio é prestado pela embaixada?
Os motivos da emigração são de vária índole. O que muitos encontram nos países por eles escolhidos, por vezes, não vai de encontro às expectativas, logo, situações sociais e as saudades das respectivas famílias são as principais inquietações.

Neste sentido, a Missão Diplomática adoptou a política “Embaixada, minha casa minha Mãe”, onde todos são convidados a frequentar sem hesitação. Convidamos cidadãos que estejam interessados a trabalhar na missão, alguns atenderam e estão empregados, prestamos assistência diplomática àqueles que requisitam o nosso apoio, criamos encontros de confraternização, o que ajuda a tornar a convivência entre angolanos num ambiente coeso e de unidade. Em suma, cumpre-se com uma das responsabilidades da Representação Diplomática, na medida do possível.

Senhor embaixador, para terminar. Que mensagem deixa aos angolanos residentes no Gana.
A comunidade angolana na República do Ghana é uma família. Em circunstâncias oportunas é visível esta interacção de amizade, respeito e carinho. Só tenho a reiterar o que já é do domínio público: somos todo uma família e estamos juntos. Devemos continuar a trabalhar no sentido de se intensificar e melhorar o que já existe. Afinal somos todos angolanos e isso é o que mais importa.

Cooperação bilateral já dura quatro décadas

Angola e o Gana, que partilham uma história comum na luta pelas independências nacionais, rubricaram os primeiros instrumentos jurídicos e de cooperação em 1976.

Em 2019, os dois países assinaram um Memorando no domínio da Educação, tendo em vista a mobilidade de professores e pesquisadores em instituições de ensino superior e centros de pesquisa científica.

No mesmo ano foi rubricado um memorando de entendimento sobre o funcionamento da Comissão Bilateral de Cooperação e relativo à supressão de vistos em passaportes diplomáticos e de serviço.

Num outro acordo, os dois Estados definiram as linhas para o reforço da cooperação nas áreas da agricultura, defesa, pescas, formação e educação, transporte e indústria mineira.

O primeiro e único acordo de cooperação entre a República do Gana e Angola foi assinado em 1981.

Dados disponíveis dão conta de que o volume de negócios entre os dois países, em 2020, estava avaliado em 6 milhões de dólares.

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